quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A pequena ruína. Pt I


Uma leve névoa fria e esbranquiçada paira sobre um gramado débil, mas, ainda sim, resistente. De forma rápida e grosseira uma pata enorme amassa uma parte da vegetação. Não uma pata de um lobo, muito menos os pés de um homem. Logo patas de lobos e, agora sim, pés de homens passam pelo mesmo local.
A quem olhasse de longe veria a grotesca cena de homens, lobos e, creiam, homens-lobo, ou lobos-homem, todos, como se guiados por um inconsciente coletivo, se dirigiam para uma dentro do bosque que ficava a pouquíssimos passos do gramado. Entravam por entre as árvores e desapareciam em meio a névoa que se adensava na medida em que o bosque também se tornava mais fechado.
Passando por entre as árvores era possível ver as formas débeis de enormes lobos que pareciam caminhar em pé, de homens que caminhavam ao seu lado, lobos gigantescos, com aparência pré historia e pequenos lobos comuns, se é que esta palavra poderia ser usada agora. Além destas formas fantasmagóricas e quase apagadas, a constância dentro do nevoeiro eram os rosnados, agressivos, baixos, altos e ate alguns ganidos. Uns cem metros para dentro do bosque era possível divisar um clareira e dela vinha uma luz que vencia a noite e trabalhava como um ponto de referencia para os caminhantes assombrados.
Ao chegar nesta clareira, de forma inexplicável, a névoa, então densa e estagnada, sumia e dava lugar a visão esplêndida daquele local. Na borda da clareira o solo descrevia uma queda acentuada que se detinha em uma plataforma que se mantinha por toda a borda da clareira e voltava a cair ate chegar a uma nova borda, levando este padrão ate o que podia se chamar de fundo, mas prefiro chamar de palco, devido aos acontecimentos futuros. Bem no meio do palco ardia, forte e constante, uma enorme fogueira que lançava sua luz amarela para todos os lados e essa luz, chegando àqueles que estavam se aproximando do local, lançavam sinistras sombras para trás. Sinistras sombras de sinistros seres, essa seria uma grande noite. Aqueles que possuem a visão um pouco mais adensada, ou fluida, dependendo do ponto de vista, consegui divisar à luz da fogueira alguns seres espectrais, também chamados de fantasmas, almas ou espíritos. A grande maioria seguia o padrão dos demais seres, por assim dizer, encarnados. Homens, lobos de todos os tamanhos e homens-lobo, mas alguns eram de outros animais, como ursos, águias, pumas e ate bisões e chacais.
Bem, a medida que os expectadores iam se chegando, desciam as encostas das clareiras e se acomodavam nas plataformas de terra q se projetavam dela e, pacientemente pareciam aguardar. Aos observadores mais atentos, era possível perceber que nem todos os que chegam se posicionaram como dentro do grande circulo ou próximo da fogueira. Uma boa parte daqueles seres permaneceu em pé, mas bordas da clareira, de costas para o seu interior, com os olhos fixos na névoa, fitando sem parar, como vigias a espera que alguma coisa ruim fosse acontecer.
De uma hora para outra o lugar estava tomado. O cheiro forte de cachorro molhado tomou conta do local, só de ver era possível sentir as picadas de pulgas q podiam ser vistas aos montes. Mas aos montes, mesmo, era toda sorte de arma que era carregada. Espadas, adagas, facas, maças, clavas, manoplas de guerras, tacapes e outras coisas mais que seriam capazes de matar somente pelo fato de serem manuseadas por quem não as houvesse fabricado. Um ultimo ponto curioso (curioso mesmo, sério?) a ser observado era que quase todos os lobos e homens-lobo possuíam algum tipo de adorno, como jóias, panos decorados, pinturas corporais e uma infinidade de cicatrizes que poderiam muito bem serem caracterizadas como cicatrizes de batalha. E algumas dessas cicatrizes se repetiam com grande freqüência, em braços, costas, peitorais e ate em algumas faces, parecendo serem intencionais, como se fosse para distinguir um grupo, ou coisa assim.

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